Faz tempo que as pessoas andam utilizando uma hashtag de tbt (#throwbackthursday) que em tradução livre, significa quinta-feira do retorno. Esses dias apareceu no meu Facebook uma lembrança muito gostosa (e digo isso no sentido literal da palavra). Tratava-se da minha experiência como chef coordenador nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. É difícil tentar representar em palavras o quanto essa experiência foi representativa e especial na minha vida. Foi um momento que, com toda certeza, eu sempre guardarei com muito carinho.

Fiquei cerca de 6 meses na Itália estudando, fazendo cursos e estágios em alguns restaurantes por lá. Sou suspeito para falar por ser apaixonado pela gastronomia de forma geral, mas a culinária italiana tem um “q” de especial. Tem um aroma, uma cor, um gosto diferente. Sem contar a alegria dos italianos que entre um prato e outro não param de cantarolar. Depois de um semestre absorvendo muito dessa cultura, voltei renovado para o Brasil. Não demorou muito para receber um convite que mudaria para sempre minha trajetória profissional.

Fui convidado pela Sapore (primeira multinacional brasileira de restaurante corporativo) a participar das Olimpíadas como chef coordenador. Apesar da recente experiência com a gastronomia italiana, me deixaram na culinária asiática e indiana, o que foi bastante desafiador já que eu só tinha tido contato com isso na época da faculdade. Um pouco apreensivo, mas certo de que entregaria o meu melhor, vesti a camisa, quer dizer, o domo e coloquei a mão na massa.

Recebi uma ficha técnica para estudar e foi o que eu fiz durante essa semana que antecedeu o evento. A Intellikit tinha prestado um serviço de aluguel de equipamentos como fornos combinados, resfriadores, entre outros, então, eu só tinha uma opção: utilizar todos os recursos tecnológicos ao meu favor. Encontrei na suposta dificuldade (a falta de experiência nessa culinária), uma oportunidade. Conversando com a minha equipe, organizamos um cardápio pautado na tecnologia.

Nada de caldeirão ou fogão. O que antes era feito nesses equipamentos, nós substituímos e utilizamos o forno combinado. As técnicas de cadeia fria que eu tanto tenho falado e praticado não poderiam ser esquecidas e, realmente, não foram. Legumes, verduras, arroz, proteína, tudo foi guardado em câmera fria para que depois só precisássemos nos preocupar com a finalização. Também tivemos que utilizar outros conceitos além do resfriamento, principalmente porque a quantidade de refeições diárias era imensa. Estou falando de aproximadamente 8 mil refeições por dia, isso só na minha praça.

Adrenalina, nervosismo, ansiedade, expectativa, felicidade, reconhecimento e sorrisos. Eu entrava no finalzinho da manhã e ajudava na preparação do almoço. Depois, eu voltava para coordenar, auxiliar e servir as refeições da janta. Foi nesse momento que eu tive a oportunidade de conhecer e conversar com muitos atletas, Neymar, Michael Felc, Rafael Nadal, entre outros. Imagina você ouvir da boca de pessoas que você admira que a comida está de parabéns? Acho que eu nunca vou esquecer isso. O sorriso no rosto deles e as palavras de satisfação são coisas que eu levarei para sempre. Afinal de contas, não se trata apenas de uma experiência gastronômica. Foi uma verdadeira experiência de vida. Eu só posso agradecer e ficar muito feliz por ter participado de um momento tão rico e especial.

Fernando Reis é Chef de cozinha na Intellikit.